Pertenço a sua família fadada para correr mundo e nele viver repartida, sendo que Portugal é sempre o ponto de partida e de chegada. Os meus pais casam-se em 1945 e, no ano seguinte nasce a minha irmã mais velha, na cidade de Leiria. A revolução na China faz com que o meu pai, na altura militar, abale para Macau. A minha mãe segue mais tarde, com uma filha de dois anos e grávida da segunda, que nasce pouco depois de uma longa viagem de barco que durou três meses e cinco dias, com paragens em vários portos – Madeira, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Singapura e Hong Kong. Regressam a Portugal no ano de 1949.
Depois que o meu pai deixou a vida militar, a dificuldades foram grandes, num país profundamente rural e com muito poucas oportunidades de emprego. São estas circunstâncias que fazem com que o meu parta para Angola ao abrigo de uma “carta de chamada” enviada por um primo da minha mãe que já lá estava há uns anos. Com emprego no Estado, o meu pai pode, então, garantir o sustento da família. A minha mãe chega a Angola no ano de 1953 e, em 1956 nasço eu. Em Angola vivi, no seio de uma família tipicamente portuguesa, mas o calor, as cores, os cheiros, os sabores, os horizontes distantes e a generosidade das gentes e da terra, fazem com que África não possa deixar de nos temperar o corpo e a alma. As minhas irmãs casaram, lá nasceram as minhas quatro sobrinhas, as raízes foram-se afundando e tínhamos como certo fazer daquele chão a nossa casa e a nossa sepultura.
Porém, uma guerra sem sentido,
como são todas as guerras, gerou um problema politico que, penso eu, ainda não
está completamente resolvido. Em 1975 as armas portuguesas calaram-se, mas não
se calaram as que fizeram uma guerra civil violenta que nos obrigou a partir
para o único refúgio possível, mas estranho.
Com 19 anos fui para Santarém. A
minha intenção era fazer o curso de Regente Agrícola e partir logo a seguir.
Mas quantas vezes os passos que damos não são aqueles que queremos dar… A
Escola de Regentes Agrícolas fechou nesse ano, e eu entrei na primeira porta
que encontrei aberta – a Escola do Magistério Primário de Santarém. Aí estudei
durante três anos, acabei o curso em Junho de 1979 e comecei a trabalhar no dia
16 de Maio de 1980, numa pequena localidade do Concelho de Torres Vedras –
Maceira -, muito perto da praia de Santa Rita.
Com quarenta e dois anos achei
que devia aprender mais para cumprir com maior competência esta tarefa sublime
de iniciar meninos e meninas na grande aventura que é a aprendizagem. Entrei,
então, para a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Coimbra como estudante trabalhadora. Depois de quatro anos de aprendizagem
teórica, escolhi o Ensino Especial para tema do estágio integrado de um ano e
do trabalho final do curso, porque penso que o estudo aprofundado dos processos
e das capacidades psicológicas que intervêm na aprendizagem e postos em causa
em crianças com qualquer tipo de défice, são de grande relevância, não só para
as crianças “especiais”, mas também para as que apresentam um padrão de
aprendizagem normal. Com a bagagem que me proporcionou o Curso de Ciências da
Educação sinto-me mais segura e mais capacitada. No entanto, a aprendizagem ao
longo da vida é uma constante que não se pode perder de vista, pois as nossas
crianças assim o exigem e assim o exige esta tarefa tão complexa de transmitir
competências, saberes, valores, princípios, tendo com ambição contribuir para a
formação de Mulheres e de Homens Livres, Responsáveis, comprometidos com a Vida
e com o Mundo.
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