domingo, 5 de maio de 2013

Dia da Mãe




Para Sempre

Por que Deus permite

que as mães vão-se embora?

Mãe não tem limite,

é tempo sem hora,

luz que não apaga

quando sopra o vento

e chuva desaba,

veludo escondido

na pele enrugada,

água pura, ar puro,

puro pensamento.

 

Morrer acontece

com o que é breve e passa

sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,

é eternidade.

Por que Deus se lembra

- mistério profundo -

de tirá-la um dia?

Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:

Mãe não morre nunca,

mãe ficará sempre

junto de seu filho

e ele, velho embora,

será pequenino

feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade

 


A Mãe

A mãe

é uma árvore

e eu uma flor.

 

A mãe

tem olhos altos como estrelas.

Os seus cabelos brilham

como o sol.

 

A mãe

faz coisas mágicas:

transforma farinha e ovos

em bolos,

linhas em camisolas,

trabalho em dinheiro.

 

A mãe

tem mais força que o vento:

carrega sacos e sacos

do supermercado

e ainda me carrega a mim.

 

A mãe

quando canta

tem um pássaro na garganta.

 

A mãe

conhece o bem e o mal.

Diz que é bem partir pinhões

e partir copos é mal.

Eu acho tudo igual.

 

A mãe

sabe para onde vão

todos os autocarros,

descobre as histórias que contam

as letras dos livros.

 

A mãe

tem na barriga um ninho.

É lá que guarda

o meu irmãozinho.

 

A mãe

podia ser só minha.

Mas tenho de a emprestar

a tanta gente…

 

A mãe

à noite descasca batatas.

Eu desenho caras nelas

e a cara mais linda

é da minha mãe.

Luísa Ducla Soares

Poemas da Mentira e da Verdade, Lisboa, Livros Horizonte, 1983; 2005

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